quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Jeitinho Brasileiro

A filosofia do jeito

Quando se fala em “jeitinho brasileiro”, logo vem à mente a figura de alguém que deseja levar vantagem em tudo, certo? Errado. Essa visão negativa da expressão, por anos difundida pelos meios de comunicação, não reflete o verdadeiro valor desse comportamento tipicamente brasileiro. O nosso jeito é uma contribuição inestimável à civilização. Quem afirma é a filósofa Fernanda Carlos Borges, autora do livro Filosofia do jeito – Um modo brasileiro de pensar com o corpo, lançado pela Summus Editorial. Partindo de abordagens filosóficas, socioculturais e cognitivas, ela procura compreender o “jeitinho brasileiro”. Nesse percurso, analisa a relação entre o corpo e os mecanismos da consciência e da comunicação, fazendo uma ponte com pensadores como Wilhelm Reich e Oswald de Andrade.

“As instituições modernas européias supervalorizam a instância ideal. Nelas, a regra nunca pode ser questionada. Por isso somos tão criticados. O jeito brasileiro afronta a norma, pois na cultura popular a necessidade humana tem mais valor”, afirma Fernanda. Para muitos, entretanto, o jeito brasileiro impede a modernização e o crescimento. “É como se esse comportamento fosse um ranço primitivo tolhendo o nosso avanço. Mas, na verdade, criamos um novo modo de vida, mais afetiva”, diz.

O jeito e o modo como o corpo existe, pensa e se comunica implicam a inteligência comprometida com a imprevisibilidade e a novidade. O jeitinho brasileiro, portanto, é a afirmação cultural da condição existencial do jeito. A capacidade de transformação do corpo é muito maior do que a das instituições e resulta em uma condição radicalmente participativa. “Sem forma pronta, o corpo é um fazedor contínuo de cultura”, explica Fernanda.

A característica dessa transformação do corpo é muito familiar à da filosofia da devoração de Oswald de Andrade: a capacidade de transformação do valor oposto (tabu) em valor favorável (totem). O jeito do corpo é o totem do momento. Mobilizado pelo jeito, o jeitinho é contrário à reprodução em série.

Para o psiquiatra José Angelo Gaiarsa, que assina o prefácio da obra, o livro de Fernanda é um ensaio crítico efetivo contra todo o instituído, o passado, o clássico, o sufocante. “Uma tentativa ansiosa de liberdade.”

A autora
Fernanda Carlos Borges formou-se em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Mestre em Ciências da Motricidade pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), é doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Estudiosa de psicanálise, especialmente de Wilhelm Reich e seus seguidores, também pesquisa as ciências cognitivas e sua relação com a filosofia da mente. É professora de Ética na Arte e de Folclore Brasileiro no curso de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap).

Um comentário:

  1. Belyta, gostei muito de encontrar o seu texto, você fez uma síntese muito boa! Te convido para visitar os meus blogs:

    www.filosofiadojeito.blogspot.com
    www.jeitonotrabalho.blogspot.com

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